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1 - Estou Triste
1 - Estou Triste

                                                        

Estou Triste

Por: Ellen Vieira

Estou triste. Dois ou três que se deram a tarefa de me falar perceberam que meu semblante demonstrava uma tristeza escancarada hoje. “Estou cansada”, respondi sem muita vontade de estender qualquer conversa. Mas não. Não é só cansaço; é insatisfação, é tristeza. 

Ao chegar no trabalho o primeiro cliente veio me dar a péssima notícia de que um desgraçado havia estuprado e enforcado com as próprias vestes uma menina de apenas sete anos na cidade vizinha. Mostrou-me o jornal e na capa dele havia outra manchete que informava que um menino de dois anos vinha sendo, havia algum tempo, abusado pelo padrasto. 

Meu dia começou mal. Se há uma coisa que sempre me deixou muito inconformada é a injustiça. E é a corrupção humana que gera essa injustiça.Eu não entendo como é que um ser humano consegue deitar a cabeça no travesseiro a noite e dormir depois de cometer desde uma barbárie dessas que tive o desgosto de saber hoje, ou mesmo depois de furar a fila. Porque não existe “pecadinho” e “pecadão”, não existe “erradinho” e “erradão”. Existe “pecado” e existe “certo” e “errado”. E você pode “simplesmente” ter furado a fila no banco; você não tem o direito de se orgulhar disso! Não tem o direito de dormir bem! 


Aí, a tarde, me aparece no escritório uma mocinha com seus possíveis 16 anos, toda tatuada, piercing no nariz, com um bilhetinho na mão, que me entregou e pude ler algo como: “estou pedindo sua ajuda, pois tenho 4 irmãos menores, etc...”. Por que ela não estava trabalhando enquanto saia pedindo esmola? Estava em perfeita saúde! 

Vou ao banco e quando aperto o botão pra pegar minha senha, uma senhora muito mal educada pega a senha que retirei, não olha nem pra minha cara e sai. Respirei fundo. Fui à casa lotérica. Uma senhora de uns quarenta anos de idade, atirada na porta do local estendia a mão e estipulava a quantia: queria um real de quem estivesse passando. Chega perto dela, rindo-se da boa vontade dos outros, a mesma menina que havia aparecido no escritório. Deviam ser parentes. 

Fiquei muito desgostosa com tudo que vi. Queria um buraco pra me enfiar de vergonha de ser humana! Minha avó reclamando que o governo não põe veneno pro mosquito da dengue, pode? Eu disse que não adianta veneno se o povo é relaxado e deixa água parada por aí mesmo com todas as campanhas que explicam que o mosquito procria assim. 

E, o gran finale, foi no final do dia, já vindo embora do trabalho. Primeiro uma menina me pergunta se saí no final de semana. Digo que fui à um chá de bebês no domingo apenas. Ela fala de suas baladas insignificantes e diz que todas morrem de inveja dela na sala de aula, que ela se arruma muito, só usa roupa de marca e que isso tudo é fantástico. Tudo bem. Aí chega outra menina e fala que foi em um lugar onde só tinha gente feia, meninas mal arrumadas e homens feios, que ela apelidou de “pelegada; que uma coisa é festa sem graça com homem bonito, outra coisa é festa sem graça com homem feio. Fiquei perplexa. Engoli seco, desliguei rápido o computador e fui pro mercado comprar as coisas que vovó me pedira. Queria ir embora rápido. Queria um banho quente, precisava desabafar. Mandei uma mensagem pro homem que amo e sei que me entende. Ele me ligou com aquele ar sério dele que eu adoro. Mas continuo triste. 

Que bom que a menina que chama os outros de “pelegada” nasceu loira de olhos azuis e com um padrão razoável de vida! Que bom que sua mãe é elegante e a ensina como se vestir. Que bom que ela não precisa pagar sua faculdade no final do mês e tudo que ganha no emprego que o papai lhe deu é para seu desfrute! Que bom que sua pele é tão perfeita, que ela vai no salão quando quer. O que ela tem que saber é que faz parte de uma minoria; e que o que ela chama de “pelegada”, são seres humanos que não tem culpa de não serem tão bem favorecidos pela natureza quanto ela foi e por isso merecem respeito! 

Estou triste. Queria poder ter chego em casa com os bacuris me chamando de mamãe e contando como foi a escola, tomado meu banho e esperado o marido chegar com o jantar feito pra falar do que eu vi, pra ele beijar minha fronte e dizer que ama esse meu jeito sensível e esse meu olhar crítico. Ter um peito pra repousar e me sentir um pouco menos sozinha. Ter a sensação de que é possível fazer que a vida tenha algum sentido, mesmo estando rodeada de gente vazia. Mas eu só tenho vinte anos, não tenho um namorado e acho que minha menstruação vai vir amanhã. =/ 
Ellen Viera
Publicação: www.paralerepensar.com.br - 13/05/2010 

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